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EMPATIA: O QUE A CRISE DO CORONA VÍRUS PODE NOS ENSINAR   Ana Célia Simões Mestre e Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia Grupo de Pesquisa Emoções, Sentimentos e Afetos no Trabalho   No cenário atual de pandemia do Corona vírus (COVID-19), frequentemente ouvimos falar da necessidade de demonstrar empatia. Mas o que seria […]

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Ana Célia Simões

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EMPATIA: O QUE A CRISE DO CORONA VÍRUS PODE NOS ENSINAR

 

Ana Célia Simões

Mestre e Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia

Grupo de Pesquisa Emoções, Sentimentos e Afetos no Trabalho

 

No cenário atual de pandemia do Corona vírus (COVID-19), frequentemente ouvimos falar da necessidade de demonstrar empatia. Mas o que seria isso exatamente? Muito confundida com a simpatia, a empatia é uma habilidade social que expressa nossa compreensão e compartilhamento de um sentimento, uma necessidade ou ainda um ponto de vista alheio, fazendo com que a outra pessoa se sinta compreendida e legitimada, melhorando, portanto, a convivência entre nós. Desta definição podemos destacar dois grandes desafios para a sua prática. Primeiro, a necessidade de sermos imparciais, não julgando os sentimentos e o ponto de vista do outro, aceitando-os como um direito semelhante ao nosso. O segundo reside no “abandono momentâneo” de uma perspectiva autocentrada, colocando nosso foco sobre o outro.

Se em épocas normais praticar a empatia já exige muito de nós, o que dizer em épocas de crise, e mais especificamente, no quadro de pandemia que estamos vivendo?  No momento em que os governos determinam medidas de isolamento ou distanciamento social, pois a COVID-19 não possui vacina, é altamente transmissível e potencialmente mortal, é possível pensar e agir para além de nós mesmos? Como estar atento e apoiar as pessoas mais vulneráveis? Como podemos contribuir para amenizar os efeitos da pandemia?

Responder a essas perguntas exige uma reflexão sobre a sociedade que nos tornamos. Temos hoje mais acesso à informação (qualificada ou não) do que jamais tivemos. Estamos a um click de tudo e de todos. Mais do que estar, podemos ser próximos, mesmo fisicamente distantes. O cumprimento do confinamento é um comportamento que nos afasta do convívio social, mas ao mesmo tempo protege os demais. A ação de voluntários, de forma responsável, tem ajudado os mais vulneráveis e apoiado os profissionais de serviços emergenciais.  Na base da escolha por esses comportamentos podemos perceber a presença da empatia. Por outro lado, ainda nos deparamos com atitudes individualistas como o aumento de preços injustificado de itens como máscaras de proteção e álcool gel. Ou ainda a defesa pela retomada do trabalho, a qualquer preço, colocando em risco, mais frontalmente, o segmento da população economicamente mais desfavorecido. Somos uma sociedade contraditória e se escolhermos ser solidários, não há caminho que não passe pela empatia.

Para estar presente em uma coletividade, a empatia se ancora no seu senso de moralidade. Nesse sentido, comportamentos empáticos só serão possíveis se nossos valores embasarem tais ações. Há um dito popular que afirma que uma crise é também uma oportunidade. É nas situações mais difíceis que testamos nossos valores. Aproveitemos esse momento para refletir e reafirmar valores como a compaixão, o respeito e a humildade, tão essenciais ao exercício da empatia. Ensinemos às novas gerações, pelo exemplo, a inibir impulsos prejudiciais ou egoístas e isto envolve ajudá-las a estar conscientes e a sentir a dor que seus comportamentos podem causar no outro. Temos a oportunidade de construir uma sociedade mais empática e solidária. Que a COVID-19 nos deixe esse legado.

 

Referências:

Coplan, A., & Goldie, P. (Orgs.). (2011). Empathy: Philosophical and psychological perspectives. Oxford University Press.

Falcone, E. M. de O., Pinho, V. D. de, Ferreira, M. C., Fernandes, C. dos S., D’Augustin, J. F., Krieger, S., Plácido, M. G., Vianna, K. de O., Electo, L. da C. T., & Pinheiro, L. C. (2013). Validade convergente do Inventário de Empatia (IE). Psico-USF, 18(2), 203–209. https://doi.org/10.1590/S1413-82712013000200004

Preston, S. D., & de Waal, F. B. M. (2002). Empathy: Its ultimate and proximate bases. Behavioral and Brain Sciences, 25(1), 1–20. https://doi.org/10.1017/S0140525X02000018

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